Empoderar, ato ou efeito de promover a mudança

segunda-feira, maio 28, 2018

Mulheres negras e sua luta para se impor e usar o poder da fala para que haja conscientização e respeito

Mônica Santana - Fotografia de Monique França Freixo/ Blogueiras Negras 
"Em casa e na escola sempre fui vista como 'estranha', mas eu não sabia o por que disso, então pra mim era um fato, eu me achava estranha também. Um caso nitidamente racista que passei foi aos 15 anos quando entrei para o teatro na Barra da Tijuca - Barra, onde seus habitantes são majoritariamente brancos e ricos - e a professora disse que eu e meu amigo (também um menino negro) não poderíamos ser protagonistas da peça porque não vendíamos. Ela disse que não podia botar a nossa cara na porta do teatro e esperar que as pessoas entrassem pra assistir. Depois ela apontou pra todas as meninas da sala que vendiam e eram todas brancas, loiras, de cabelo liso e olhos azuis. Meus amigos vieram me abraçar e me consolar falando sobre Sheron Menezzes, Taís Araújo e eu não entendi nada. Por que estavam falando delas pra mim?" diz Mariana Oliveira, atriz e estudante de Cinema, ao ser questionada sobre a primeira vez em que se viu numa situação de preconceito. 

Antes da internet tomar a proporção dos dias atuais e alcançar pessoas de todo o mundo, muitas meninas e mulheres eram vistas como aberração ou fora dos padrões por não ter a pele clara. Crianças cresceram ouvindo que sua pele era exótica porque era "diferente" das demais. Nesta época, não tão distante, meninas negras não tinham muitas figuras públicas na qual poderiam se inspirar. Isso porque as mulheres sempre foram repreendidas e não tinham o direito de se expressar e lutar por algo ou, simplesmente, porque as oportunidades nunca foram dadas diretamente e primeiramente à negras. 

Mas, o mundo mudou. Não por completo, ainda. Infelizmente, não podemos ver muitas pessoas negras exercendo papéis importantes em quaisquer que sejam os cargos. Por mais que a população negra no Brasil tenha mais de 17 milhões de pessoas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad), na televisão, no cinema, na internet, nos escritórios ou em qualquer outro local, os negros, em destaque as mulheres, são minoria. Porém já é notável uma diferença, visto que hoje o número de mulheres negras na mídia que usam sua visibilidade para tratar de assuntos que possam ajudar e incentivar outras pessoas é muito maior. Elas dão voz às que não podem falar e ser notadas. Essas pessoas estão dispostas a expor ao mundo que mulher, negra, tem tanto direito quanto às outras de ocuparem lugares importantes, fazendo assim com que outras mulheres negras se sintam representadas e se empoderem para lutar pelo que querem e acreditam.

Mas o que é empoderamento e por que falar sobre isso?

Palavra muito utilizada, mas que foge do conhecimento de algumas pessoas ainda e muitas vezes é até mesmo subjugada como "modinha" passageira, empoderar é um termo que significa, em seu contexto geral, promover a conscientização. Deste modo, ele está inserido em muitos discursos de pessoas que lutam por algo e buscam conscientizar outras a lutarem pelos ideais na qual acreditam. Sendo assim, este é um termo que expressa o objetivo de muitos movimentos, tal como o movimento negro.
Nátaly Neri/Gabi Oliveira/Mariana Oliveira/Djamila Ribeiro/Rayza Nicácio 
Essas mulheres que estão na mídia usam de sua visibilidade para falar sobre a importância de se conscientizar à respeito de quem você é e do seu direito na sociedade. Nas redes sociais são muitas vezes taxadas como chatas por tratarem de assuntos sobre empoderamento com tanta veemência. Rayza Nicácio, Youtuber de 26 anos, quando questionada sobre o motivo de ainda falar sobre o tema e o por quê de não mudar de assunto, diz: "Não dá para parar de falar sobre empoderamento, porque não é só sobre mim. É sobre quem precisa ouvir essas coisas. E eu quero que as pessoas que me assistem e me seguem, carreguem essa missão da mesma forma. Se você aprendeu que não é para se importar com a opinião dos outros, ensine à alguém a não se importar com a opinião dos outros", e completa: "Você tem que pensar que não é só sobre você. Porque você não tá trabalhando só por você, mas pelas próximas pessoas que vão passar por ali" se referindo ao fato de que quem entende o conceito de empoderamento e busca levar como missão mudar a realidade também será um exemplo de representatividade para quem vier a passar por alguma situação semelhante.

Empoderar é mostrar para a mulher negra que ela pode e é capaz. É expor através de conversas, diálogos e levando às mídias tradicionais para que o assunto não pare em você. Outras mulheres precisam entender que ser negra não é defeito. Por isso a importância de falar sobre isso, porque existem muitas mulheres que ainda precisam ouvir.

Precisamos romper o silêncio e o medo

"Ter direito a voz, é ter direito a humanidade." diz Djamila Ribeiro, feminista, pesquisadora e mestre em Filosofia Política. Muitas mulheres negras, quando jovens principalmente, passam por uma fase onde se sentem oprimidas no contexto em que estão inseridas. O medo de falar e contar sua história ou simplesmente expor sua opinião sobre determinado assunto, paira sobre suas vidas e neste momento elas se vêem numa posição de desconforto, o que leva ao silêncio. Não querer chamar atenção das pessoas com sua forma de pensar e agir acaba se tornando uma desculpa para se excluir do ciclo social e muitas vezes se sentir inferiorizada por ser mulher, por ser negra. 

Um fato que acontece na vida de mulheres negras é que, quando crianças, todas se sentiam capazes de mudar o mundo e se sentiam bem consigo mesma, mas, com o passar dos anos isso foi mudando e elas foram se silenciando. Situação que se deve muito ao fato de que quando adolescentes, meninas não se enxergavam no material didático da escola ou se oprimiam porque não se sentiam protegidas no âmbito escolar. Dentro disso, pode-se ressaltar novamente a importância de existirem pessoas que estão na mídia para encorajar outras. Antigamente isso não era muito comum por causa da internet. Mas hoje isso já é diferente. O que aconteceu com meninas que hoje são mulheres não está acontecendo com tanta frequência por causa da acessibilidade. Muitas feministas negras destacam a importância de cada um se sentir no direito de falar e não ficar no silêncio. 
"Fomos educadas para respeitar mais o medo do que a nossa necessidade de linguagem e definição, mas se esperamos em silêncio que chegue a coragem, o peso do silêncio vai nos afogar."
Audre Lorde 
As narrativas de mulheres corajosas como Audre Lorde, Alice Walker ou Toni Morrison (todas escritoras feministas negras) encorajam outras pessoas e fazem com que as mulheres percebam o quão importante é falar. Djamila foi uma destas mulheres a serem encorajadas por textos escritos por essas feministas e hoje representa e incentiva outras meninas a falar e lutar. É importante que mulheres usem sua voz para romper os silêncios e para que todas possam ser respeitadas como o ser humano que são. É necessário questionar e procurar saber o motivo de ainda não ter pessoas negras ocupando os mesmo lugares que pessoas brancas. Não dá para ver a situação toda e continuar apático, como se a realidade não fosse essa que vemos. É necessário se incomodar e falar. Como diz Djamila, "Sem o incômodo a gente não promove a mudança".

A Internet é um Canal

"A Internet é fundamental para fazer essas discussões vazarem e explodirem na casa de cada uma das pessoas", diz Nátaly Neri, youtuber, estudante de Ciências Sociais e feminista negra importante atualmente, que aborda constantemente pautas raciais em seu Canal (Afros e Afins) no Youtube. Visto que hoje ainda pouco se discute sobre questões sociais como o racismo em canais televisivos abertos, a internet tem sido um caminho para que muitas mulheres exponham suas opiniões e sirvam realmente como modelo para meninas mais novas. Com o crescimento de canais no YouTube, o espaço para se discutir a respeito se tornou mais amplo e acessível fazendo com que mulheres de todas as idades consigam adquirir conhecimento e possibilitando sua formação crítica e empoderada. "A internet foi um meio importantíssimo para estarmos onde estamos hoje. Eu acho que ela é bem democrática. Serviu como plataforma para nos expressarmos, expandir nosso discurso e alcançarmos outras mulheres.", diz Mariana.

A luta dos negros precisa ser falada

Marcello Casal Jr./Agência Brasil/Fotos Públicas - Marcha das Mulheres Negras em 2015 

A luta precisa chegar às grandes mídias para que as pessoas que não estão na mesma causa possam conhecer e entender que não se trata de um vitimismo. Entender que, quando alguma mulher negra fala que não se vê representada em novelas de emissoras como a Rede Globo é porque não é vitimização e confusão que ela quer expor. Mas, sim, que não é porque ela é negra que o lugar dela é fazendo faxina de uma casa de pessoas brancas. Não é porque ela é negra que sua imagem deve ser associada a inferioridade. E, infelizmente, o que é mostrado em novelas, por exemplo, influencia diretamente em situações da vida real. 

Citar a Taís Araújo como um modelo de representatividade é ótimo. Ela é um verdadeiro exemplo de que a persistência é essencial. E desde que a internet surgiu, ela usa dessa sua visibilidade para falar sobre o movimento negro e sobre feminismo. Mas, mesmo com figuras como ela, mulheres negras ainda são a minoria na televisão. Segundo Gabriela Oliveira, youtuber formada em Comunicação Social que aborda assuntos sobre empoderamento em seu canal: "As mídias precisam começar a pensar se elas querem continuar perpetuando o pensamento e o imaginário ou se elas querem romper com ele e apresentar uma nova perspectiva". Para isso, é necessário falar. Sair do conformismo para que haja uma mudança como um todo. "Ser negro influencia diretamente nas experiência do indivíduo em sociedade e consequentemente influencia em ter sucesso ou não. Para isso, você vai precisar decidir se só quer se compadecer a cada novo caso de racismo ou se você vai querer mudar as coisas", completa Gabi.
Discurso de agradecimento de Viola Davis pelo Prêmio Emmy de melhor atriz de Drama por sua personagem em How to Get Away with Murder. A premiação, que ocorreu em 2015, deu à ela também o título de primeira mulher negra a ganhar um Emmy nessa categoria.

Não é por falta de vontade que mulheres negras não estão ocupando espaços importantes na sociedade. Não é por falta de estudos que não existe um número grande de mulheres negras dentro das salas de aula exercendo o papel de uma professora. Não é por falta de interesse em aproveitar as oportunidades. Pelo contrário. É exatamente porque não existem oportunidades para mulher negra crescer como pessoa numa sociedade em que a enxerga como objeto sexual ou empregada doméstica e não como um ser humano que tem as mesmas capacidades que os demais em exercer um papel importante e em colaborar para algo grande na sociedade. Por isso a importância de falar e empoderar outras mulheres. Por isso a importância de militar na internet e alcançar mais e mais pessoas. Para encorajá-las a lutar por seus direitos. Para fazer com que saiam da sua zona de conformismo e busquem maneiras de mudar a realidade atual. Nada vai mudar se as mesmas pessoas continuarem escrevendo novelas, se os mesmos cineastas e diretores continuarem produzindo os filmes. Vale lembrar que é tudo questão de oportunidades.

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8 comentários

  1. Mulheres empoderando outras mulheres! Simplesmente maravilhoso!
    Blog da Marcy | Facebook | Google+ | Twitter | Instagram | Pinterest

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  2. Meu esposo é negro e vivemos em um estado majoritariamente branco (Paraná). Sempre vejo umas pessoas soltarem uns comentários meio tortos, não sendo racistas na cara dura, mas sendo racistas de forma velada. Dia desses meu marido estava com nossa filha no médico e conversava com um senhor.. Esse senhor acabou soltando a pérola: "sabia que eu fui criado por uma moça da sua cor?". Meu marido não achou nada demais no comentário mas eu achei um racismo velado. Primeiro porque a cor tem nome e ela é preta. Segundo porque o comentário faz alusão de que só pessoas pretas estão em situação de "criar", "alimentar", "cuidar" das pessoas branvas, o contrário não existe porque aí seria "desproporcional".. enfim.. Ainda precisamos trilhar um longo caminho pra tratar destas questões!

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