Oi, moreno. Lembra de mim? Eu me lembro bem de você. Lembro de como você ficava todo bobo quando eu te chamava assim, moreno. Lembro das nossas risadas. Lembra quando fomos assistir àquele filme e, já na sala de cinema, tivemos um pequeno ataque de risos por causa de uma pipoca no chão? Eu lembro. E, confesso que ainda dou risada quando lembro disso. Me lembro das noites em que você me ligava pra perguntar se eu não queria assistir um filme que iria passar na TV. Era engraçado porque a gente ficava comentando por mensagens no celular como se estivéssemos um ao lado do outro. Cada história juntos, hein? Eu poderia escrever mil páginas e, ainda assim, seriam insuficientes.
Me lembro do dia em que nos conhecemos. Lembra? Você, todo apressado, como sempre, esbarrou em mim na entrada do elevador do shopping e de repente, instantes depois, estávamos na fila do cinema para assistir ao mesmo filme. Pronto. Começamos a namorar umas oito semanas depois. Foi tudo tão lindo. Desde o começo, você sempre foi muito carinhoso. Me trazia flores todos os dias e, para relembrar, cada dia do nosso aniversário de namoro íamos ao cinema para reviver o nosso primeiro encontro. Ideia sua, claro. E eu adorava. Adorava te ver feliz quando estávamos juntos. Adorava seu sorriso. Você lembra quantas vezes eu já te disse isso? Muitas, não? Mas, eu adorava mesmo. Adorava o som da sua gargalhada também. E odiava quando me fazia borrar a maquiagem de tanto rir dela. Mentira. Eu adorava.
Eu me lembro de tanta coisa que vivemos juntos. Lembro de quando descobri do seu pavor por mar. Foi tão engraçado quando fomos a praia, juntos, pela primeira vez. Você, todo dramático, disse que precisava me confessar uma coisa. Fiquei imaginando mil coisas até que você confessou o seu pavor. Eu dei tanta risada por causa do seu drama que as pessoas até olhavam para nós dois. E no final da tarde quando eu consegui te arrastar para a beirada do mar só porque prometi que iria com você num negócio que só servia carnes. Lembra disso? Eu lembro, moreno. Lembro que depois desse dia, você começou a me perguntar todos os dias quem era o homem da sua vida e, para te irritar, eu dizia não ter encontrado ainda um que não me obrigasse a comer carne, rs.
Sempre fomos tão unidos, não é? Se tem uma coisa que não consigo me lembrar é de brigas nossas. Você não gostava, rs. Mesmo quando eu não estava num dia bom. Mesmo quando eu estava nervosa, com raiva, melancólica ou algo assim. Você nunca me deixava sozinha ou virava as costas. Sempre do meu lado. Lembro que você sempre falava que tinha encontrado a mulher da sua vida. E que suportaria tudo e faria de tudo para fazer essa mulher a mais amada do mundo. Eu lembro. Você prometeu.
E você fez. Depois desses anos todos juntos, nunca, nada nos abalou. Nada nos fez ficar separados por algum tempo. Até mesmo quando descobrimos a doença. Na verdade, depois daquele dia, tudo melhorou ainda mais. Mas, eu via em seus olhos, quando estava cozinhando algo para mim, as lágrimas que rolavam. E sua desculpa sempre foi a coitada da cebola. Bobinho. Você estava sofrendo, não é? Peço desculpas por isso e por não ter sido capaz de fazer algo para mudar. Mas, uma coisa eu sei que fiz: vivi os melhores momentos que alguém poderia viver. Todos, como se fossem os últimos da minha vida. E, todos, ao seu lado.
Só tenho a agradecer pelo anjo que você sempre foi. Por todas as vezes que cuidou de mim. Por todos os conselhos que me deu. Por todas as vezes que foi meu melhor amigo e ouviu as minhas lamentações e desabafos. Obrigada, moreno. Lembra dos seus momentos como psicólogo? Você me ouvia como ninguém, rs. Até o dia em que eu te ouvi, como um sussurro, suas últimas palavras direcionadas à mim. Soaram como uma música. A nossa música. Na verdade, era a nossa música mesmo. Você perguntou: "Not like the movies?". E eu, com a voz tremula respondi: "não, não é como nos filmes. Com você, foi muito melhor!". Você sorriu, nos beijamos pela última vez e, então, partiu.
Guardarei àquele último olhar comigo para sempre. E, principalmente, àquele sorriso que eu tanto amei. Obrigada, viu? Você me fez sentir a mulher mais amada do mundo todo. Você cumpriu a promessa. E agora, estou prometendo a última coisa, onde quer que eu esteja, estarei cuidando de você. Serei seu anjo da guarda, como você foi para mim. Ah, e não se esqueça: Eu me apaixonei por você desde o primeiro momento em que nos esbarramos.
Um forte abraço da sua eterna Julieta. Estarei com você. Mesmo que não fisicamente. Mesmo que em forma de estrela. Como você disse que sempre fui. Uma estrela que jamais seria apagada ou ofuscada. Lembra? E, respondendo à sua pergunta: Você foi e sempre será o homem da minha vida.
